quinta-feira, 1 de julho de 2010

UM DIA MÁGICO



Noite alta e como diz o poeta, céu risonho, estrelas cintilantes enfeitavam o breu total, o infinito, um frio de outono se fazia presente, dava pra suportar no momento. Não pude dormir nessa noite, meu olhar fixava constelações, procurando algo no desconhecido. Minha inquietação começou depois de uma mensagem de celular passada pelo parceiro Willy.
Salve mano, o junino vai hoje!
Não podia me descuidar e perder o espetáculo, mais ou menos umas 02h45min da madrugada me preparei, tirei a câmera fotográfica do carregador e guardei na mochila, coloquei blusa e touca, fiz um lanche de pão com queijo e mortadela acompanhados com suco, me dei um salve na coroa e sai.
Na quebrada varias pessoas estavam na rua fazendo suas baladinhas, o agito não para, fazia uma oração pedindo proteção na caminhada, verifiquei se os documentos se encontravam na carteira, tudo certo, mentalizava passar despercebido se alguma viatura piasse, que Deus me tornasse invisível na calada da noite.
Abençoado pela coroa cheguei à casa do Willy, o mesmo, no meio da rua soltava fumaça pela boca sem ao menos fumar, era o frio mesmo. Nos cumprimentamos, estava tudo beleza, só um percalço que o afligia demais, mas logo se resolveria, faltava o transporte da carga que tínhamos que deslocar.
A nossa ansiedade era visível, a lua bem lá no alto era cúmplice do sereno que umedecia nossas vestes e os tetos dos carros, as 3h330m o seu radio toca!
PRI-PRI!!
_ E ai tudo certo por aí, e o Fanti já chegou?
PRI-PRI!
_Sim, tá aqui, tá faltando o cara da saveiro, que vem lá de Guarulhos!
PRI-PRI!
_ Pode crer, já estamos aqui, qualquer coisa da um toque. Finalizou Zebu.
Era a outra parte da galera, que iria conosco, já tinha se organizado. Iríamos pro interior, município e Suzano, mais precisamente a zona rural de Suzano, local bem afastado. Ficamos batendo um papo pra ver se espantava a ansiedade e o frio que estava fazendo, queria um café bem quente, sem chance. De repente o radio!
PRI-PRI!
_ E aí Willy tô chegando! Pri-pri.
_Firmeza! Mano onde é que você tá? Pri-pri.
_ Tô perto da Vila Prudente, vindo de Guarulhos! Pri-pri.
_ Sumemo, estaremos lá no Zebu te esperando!
PRI-PRI!
Um pouco de alivio na tensão, era o sinal verde pra nossa realização, agora já até sorriamos de leve, Willy chamou sua esposa entramos no carro e fomos pra casa do Zebu, que por sinal não era muito longe. Encontramos a rapaziada toda alerta e nos cumprimentamos.
_É hoje mano a noite está perfeita, nada pode estragar! Falei em voz alta e todos concordaram.
Uns 10 minutos depois os manos da saveiro chegaram, trazendo alegria a mais pra galera, carregamos as coisas que faltavam pois os outros carros estavam cheios de gente e de coisas. Desejamos sorte entre a gente e todos entraram nos carros batendo as portas quase que na mesma hora, muito louco.
Seguimos em direção à Avenida do Estado, rumo ao grande ABC, um comboio de 5 carros formava o bonde. No interior do veiculo estávamos todos calados, apreensivos pra falar a verdade, eu ia seguindo com o olhar os outros carros, Willy atento no volante, do seu lado sua esposa calada, do meu o Cleylton com o radio na mão esperava alguma chamada dos parceiros.
Num determinado momento, já em Mauá uma viatura emparelhou com a gente, giroflex aceso olhavam pra gente, pra piorar resolveram entrar atrás da saveiro que estava com o carregamento, nós ficamos atrás na migué, com um medo da porra.
_Fudeu! Disse o Willy.
_ Vai firme, não diminui não! Alertou o Cleylton.
Eu fiquei só observando, rezando pra dar tudo certo. O radio do Cleylton chamou e ele apaziguou os caras que estavam nos carros da frente dizendo que estava tudo suave no momento. Uns 2 quilômetros depois as autoridades desviaram sua rota. O alivio foi geral, todos nós rimos de felicidade.
_ “Sai, deus é mais, vai morrer pra lá zica”. Completei com frase dos Racionais.
Foi só seguir em frente e pisar fundo quando menos esperamos o asfalto agora tinha virado estrada de terra. Chegamos ao local indicado ainda de noite, o frio era mais intenso ainda, a sensação térmica devia ser de uns 3 graus, um lugar bem no meio do mato, quase que Serra do Mar, uma neblina rasteira deixava o clima mais úmido ainda, o mato estava encharcado por causa do sereno, molhando os tênis e as barras das calças.
Sem marcar bobeiras fomos descarregando os carros, forrando o chão com lona preta e colocando as coisas em cima, sem marcar bobeira fomos agilizando os preparativos, uns foram estivando os cabrestos, outros foram amarrando os paus-flechas da antena, na seqüência fomos anexando a bandeira à antena.
O principal veio depois, o causador de todo esse rebuliço, trazido com todo cuidado, embrulhado numa lona preta também, colocado ao chão, abrimos o pacote e aos poucos foi sendo desembrulhado, ali mesmo sua beleza foi revelada, um mosaico de cores e tons de encantar os olhos.
_ Prepara a boca! Um falou.
_ Deixa que eu cuido da bucha! Outro completou.
Tudo nos conformes parecia mentira, Zebu veio trazendo o botijão com maçarico, ao acendê-lo o filete de papel de seda foi sendo inflado, espanado com a ajuda da galera, segurado com todo apreço do mundo pra ser danificado. O ar quente do maçarico foi dando forma, seu tamanho era proporcional a sua beleza, as cores passavam de 10, vários tons diferentes, a coisa mais linda. Quando menos e esperou ele ficou de pé, um pouco bambo, pois uma brisa leve soprava levando a neblina rasteira pra longe, os primeiros raios de sol começavam a surgir, revelando a silhueta do nosso sonho, um balão multicolorido, todo taquiado.
Ia tomando sua verdadeira forma, 2 anos de trabalho intenso em cima de uam bancada, cortando e colando papel, estava ali realizado, encantando a todos involuntariamente. Um truff de 12 metros de altura, o mesmo modelo daqueles que carregam pessoas, balonismo, uma homenagem seria feita.
A todo gás ele já tinha vontade própria, sua força queria impor sua subida ao céu azul, a tocha já tinha sido acesa, as guias, o cordão umbilical do balão, estavam em seua devidos lugares e nas mãos de quem ia guiar o balão, em questão de minutos ele ganharia a liberdade, liberar as guia seria cortar o cordão umbilical de nosso menino, como um filho iria ganhar o mundo, ou o céu, o infinito, o desconhecido e ingrato nunca mais voltaria, mesmo assim não ficaríamos tristes, pois seria por vontade própria.
Éramos de volta todos crianças, sorridentes como na primeira de vez que tínhamos visto um balão, uma leveza de espírito, um sentimento bom foi tomando o peito. Aos poucos o balão foi era guiado, ganhando altura, tinha gente que já estava chorando, a bandeira sendo erguida com a força do mesmo. Tensão! Não queria mais subir, parecia perder força de arranque, alguns gritos eram emitidos, o medo de por tudo a perder era demais, minutos de espera, o fogo ia consumindo a bucha do balão e com uma autonomia completa, arrancou de uma vez só levando a bandeira enorme, saindo de nossas mãos pra nunca mais.
O conjunto da obra foi deslumbrante, as mais variadas formas de manifestações de alegria foram ouvidas, a fotografia da mulher do Willy foi reproduzida na bandeira, uma cópia perfeita, seu sorriso era marcado com lagrimas de alegria, sinceramente foi uma homenagem mais do que perfeita, há tempos não tinha vivido uma emoção tão forte, pura prova de carinho, amor, dedicação e arte.
O balão se foi, mas deixou seu legado, o amor à arte pela arte, por que fizemos e não recebemos nada em troca, a não ser o prazer de um sonho realizado, é a paixão cada vez mais forte e inexplicável, um abraço à todos que compareceram neste dia, por que foi um dia mágico
Fanti Mano Humilde

Nenhum comentário:

Postar um comentário